Com cerca de 109 mil habitantes (IBGE, 2022), Ariquemes já caminha para se tornar uma smart city no estado de Rondônia.
Quando pensamos em Cidades Inteligentes é comum vir à nossa mente imagens de grandes megalópoles cheias de luz e telões, ou até mesmo lugares que utilizam de robôs e inteligências artificiais para diversas tarefas. Mas é apenas isso que de fato torna essas cidades em modelos de Cidades Inteligentes?
Em dezembro de 2021, foi lançado na cidade de Ariquemes/RO, o projeto Cidades Inteligentes, programa desenvolvido pelo Instituto Federal de Rondônia (IFRO) em parceria com a prefeitura da cidade, e gerenciado administrativo-financeiramente pela Fundação Arthur Bernardes (Funarbe) O projeto prevê a modernização do município até o modelo de uma Smart City (Cidade Inteligente).
Mas isso significa que Ariquemes vai ser preenchida com robôs e telões? Bom… não exatamente como um filme de ficção científica, mas algo similar e mais realista.
Em entrevista com o Profº. Sérgio Francisco Loss, pós-doutor em Meio Ambiente e Desenvolvimento Regional (UNIR), e um dos coordenadores do projeto, foi possível se aprofundar no significado real do termo, e entender todos os benefícios que o desenvolvimento desse projeto poderá proporcionar para a população ariquemense.
As Cidades Inteligentes
O termo, por mais que ainda não seja tão usual no cotidiano, vem ganhando espaço no Brasil aos poucos. “O primeiro ponto é que uma cidade não é inteligente em tudo, quando falamos inteligência não estamos falando da capacidade das pessoas, mas sim das soluções que são implantadas no local para melhor desenvolver serviços públicos e atender a população em geral.”, explica Sérgio.
Algumas cidades são bastante evoluídas em áreas específicas, como por exemplo meio ambiente e sustentabilidade, mas existem diversos outros eixos avaliados para classificar uma cidade como inteligente, tal como empreendedorismo, educação, governança, segurança etc. Atualmente, temos como as maiores cidades inteligentes do país os municípios de Curitiba (PR), Florianópolis (SC), São Paulo (SP) e São Caetano do Sul (SP), segundo o Ranking Connected Smart Cities (2022).
Contudo, por mais que essas sejam as cidades que abarcam maior inteligência e desenvolvimento, estamos ainda longe de atingir grandes exemplos de Smart Cities em relação ao resto do mundo. Para Sérgio, “no Brasil, precisamos ainda evoluir bastante, mas estamos começando bem, e é algo um pouco mais recente por aqui. O movimento começou com alguns decretos, inclusive federais, estabelecendo que os processos de urbanização têm que ser mais sustentáveis e resilientes.”
A inspiração para o projeto e os eixos centrais
O projeto nasceu com a indicação do Senador Confúcio Moura (MDB/RO), que já foi prefeito de Ariquemes e conhecia bem a região e o potencial de desenvolvimento. Assim, o Profº Sérgio Loss e sua equipe foram procurados para criação de um modelo de projeto que requeresse mais estudos e investimentos, alinhado às expectativas e aos investimentos previstos pelo senador.
A partir daí, as aplicações do projeto passaram a englobar cinco eixos centrais de atuação, priorizando tópicos como econômico, ambiental e sociocultural em todos eles e visando a melhor organização de um projeto sustentável e potente, com expectativa de duração de três anos para aplicação:
Educação:
Como mencionado, a tecnologia exorbitante não é o ponto central para o desenvolvimento de uma cidade inteligente. E sim, a busca pela desburocratização, a praticidade e a aplicação de sistemas que facilitam a rotina de uma comunidade, inserindo-a em um mundo digitalizado.
Assim, no âmbito da educação, busca-se aplicar um sistema que aproxima os responsáveis e familiares da vida escolar dos alunos, possibilitando o acompanhamento do histórico e do desenvolvimento escolar de forma totalmente eletrônica, como boletins, frequência escolar e declarações automáticas.
Neste eixo, será possível, inclusive, superar a meta do projeto de aplicação em 10 escolas do município, chegando a atingir mais de 20 unidades.
Saúde:
Mais de 10 Unidades Básicas de Saúde poderão ser beneficiadas pelo projeto, seguindo a mesma linha de otimização de processos. Eletronicamente, será possível realizar o gerenciamento da Unidade, assim como geração de prontuários e histórico de saúde digitalizados, possibilitando aos médicos o aprimoramento dos seus atendimentos.
Além disso, os próprios pacientes terão a possibilidade de marcar consultas e exames, assim como checar o resultado desses. Há ainda uma expectativa em estudo para viabilização da telemedicina (consultas online) para os moradores de Ariquemes.
Empreendedorismo e Inovação:
Dentro desse eixo, será desenvolvido e implantado um centro multiusuário com soluções interessantes para atender a comunidade, como por exemplo um laboratório com cursos diversos e gratuitos para formação e aperfeiçoamento. Além deste, espera-se disponibilizar um laboratório audiovisual, espaço de coworking e integração dos setores produtivos.
A inovação também poderá ser experimentada e vivenciada nas 12 ilhas digitais que serão instaladas por Ariquemes. Com uma estrutura completa de cobertura, bancos e mesas, as ilhas possibilitarão que a comunidade carregue seus aparelhos móveis, acompanhe campanhas municipais nos painéis digitais, além de ter acesso gratuito à internet em um raio de até 100m de cada ilha.
Atrelado à inovação proporcionada pelas ilhas, também serão instaladas pelo município rondoniense mais de 100 câmeras de segurança, ligadas diretamente à uma central especializada que poderá monitorar toda a cidade por meio de equipamentos sofisticados que realizam leituras faciais e de placas de automóveis, por exemplo.
Governança:
Já no eixo da governança, o projeto busca a implantação de um sistema de informatização, em parceria com o Instituto Federal do Rio Grande do Norte (IFRN), por meio da plataforma SUAP (Sistema Único de Administração Pública), que possibilita o gerenciamento de fluxo processuais da prefeitura.
O SUAP passará por um processo de melhorias e adaptação para se enquadrar na realidade do município e de fato, garantir a otimização dos processos realizados pela prefeitura.
As inteligências artificiais
Atualmente, com o avanço tecnológico muito se fala sobre inteligências artificiais. Temos como exemplo robôs que conseguem fazer tarefas práticas, programas que simulam seres humanos e até mesmo equipamentos que fazem buscas profundas e otimizam o nosso dia a dia.
No Projeto Cidades Inteligentes, esse tipo de software vai estar presente em seus sistemas como um todo “A inteligência artificial entra principalmente no eixo de segurança, e em todas as áreas em que haja a implantação de sistemas. É a solução que permite converter qualquer dado em uma informação aproveitável para um determinado processo.”, explica o supervisor.
Segundo Sérgio, essas inteligências poderão atuar na leitura de documentos, processamento de dados e tudo que possa ser utilitário na otimização dos programas criados, assim como exposto acima.
E para que esses sistemas possam de fato serem implantados, cerca de 50% do recurso do projeto será destinado a compra de materiais e equipamentos. “Iremos fazer assessorias técnicas e também realizar a compra dos equipamentos para dar infraestrutura física para a implantação dessas soluções”, reforça o supervisor, que com o apoio da área de Compras e Importações da Funarbe poderá garantir os melhores produtos com o melhor custo benefício.
Integração em uma cidade inteligente
Todo o desenvolvimento do projeto busca integrar tanto o espaço central da cidade, como também, bairros mais afastados e áreas rurais. “Por mais que tudo seja mais concentrado na cidade, toda solução que for apresentada também tem que servir para a população rural. No eixo Empreendedorismo e Inovação são pensadas soluções para desenvolver o agronegócio, por exemplo”.
Visando atender a também a população em vulnerabilidade social, as ilhas tecnológicas, com acesso wi-fi, serão construídas em pontos estratégicos, abrangendo o município por completo. Com isso, toda população de Ariquemes poderá desfrutar das melhorias e benefícios de uma cidade inteligente.
Cidadão como ator real dentro do projeto
“O primeiro princípio básico para cidades inteligentes é servir as pessoas”, enfatiza Sérgio. Por isso, dentro do projeto, buscam a promoção de um desenvolvimento sustentável e a melhora da qualidade de vida de toda a população. E para que tudo saia do papel, a própria comunidade poderá atuar diretamente ou indiretamente para tal desenvolvimento.
Atualmente, segundo o supervisor, qualquer pessoa que tenha formação e experiência requerida para atuar no projeto pode se candidatar como bolsista, por meio dos Editais lançados no site oficial do Projeto. Além disso, capacitações vão ser desenvolvidas para servidores públicos e como reflexo, os cidadãos terão um melhor atendimento nos serviços oferecidos pela Prefeitura.
Acompanhamento a longo prazo
Durante o período de implantação, os usuários dos serviços poderão realizar o feedback em relação aos sistemas e estruturas, para assim garantir que o projeto aconteça com êxito. A etapa inicial é a preparação, seguida de uma fase de emergência, na qual dará início as aplicações de cada sistema; e por fim a última etapa, a consolidação, quando, em conjunto com a prefeitura, será escrito o Plano Diretor para Cidades Inteligentes, documento que irá nortear as ações do município, no futuro, em relação a investimentos e desenvolvimento dessa cidade inteligente.
Ariquemes/RO por enquanto é a primeira cidade a ser contemplada com esse importante Projeto, por meio do recurso liberado por emenda parlamentar, dentro do orçamento geral da União; vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações (MCTI), repassado para o executor Instituto Federal de Rondônia (IFRO) e sob responsabilidade de gestão administrativa-financeira da Fundação Arthur Bernardes. Vislumbra-se que as soluções criadas para Ariquemes sejam também implantadas em outros municípios que vierem a firmar convênios com o Projeto.
Para saber mais, acesse: https://cidadesinteligentes.online/
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